Arquivo para download: Conhecimento e afetividade em Spinoza, por Pascal Sévérac e "Fazer do conhecimento o mais potente dos afetos", por Olivier Ponton

Conhecimento e afetividade em Spinoza
Pascal Sévérac

A filosofia spinozista, em simultâneo, se propõe tomar a afetividade humana como objeto de conhecimento racional e, sobretudo, não visa o aperfeiçoamento ético senão por meio da produção de afetos liberadores. O projeto spinozista nos propõe uma ética do conhecimento que certamente se distingue de uma moral da obediência; mas não se trata nunca de conhecer por conhecer, trata-se de conhecer para ser afetado, e ser afetado de tal forma que possamos viver felizes. 

“Fazer do conhecimento o mais potente dos afetos”
Olivier Ponton

Em 30 de julho de 1881, Nietzsche envia uma carta entusiasmada a seu amigo Overbeck, na qual admite que mal conhecia Spinoza, mas que acabava de descobrir nele um maravilhoso precursor e afirma que a “tendência geral” de Spinoza é idêntica à sua – essa tendência pode ser formulada assim: “fazer do conhecimento o mais potente dos afetos”31. Esta fórmula tem um estatuto particular, uma vez que Nietzsche se expressa com palavras de Spinoza (ou melhor, com as palavras de um livro de Kuno Fischer sobre Spinoza). Nos textos desse período, Nietzsche raramente relaciona o conhecimento a um afeto, pois o relaciona de preferência a um “impulso”ou a uma “paixão”32. Nosso propósito não é aqui, no entanto, compreender o sentido que essa fórmula pode tomar na filosofia de Spinoza, mas reconstituir o sentido que tem na filosofia de Nietzsche. Fixamos, portanto, dois objetivos: 1) compreender essa fórmula nietzschiana no seu contexto original, isto é, na filosofia de Aurora e de A gaia ciência; 2) examinar em que esta tendência para “fazer do conhecimento o afeto mais potente” pode corresponder à “tendência geral” do pensamento de Nietzsche, nesse período.

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