Arquivo para download: Estoicismo e epicurismo na filosofia de Gilles Deleuze: uma "identidade secreta", por Paulo Domenech Oneto

O ser como desdobramento da vida ou como unidade sempre em vias de constituição é o que caracteriza uma das principais inovações estoicas para Bréhier. Entretanto, a questão que anima Lógica do sentido é o esforço de diferentes pensadores para “conquistar a superfície”, e é isto que a leitura deleuziana busca enfatizar no texto de Bréhier. Nos termos deste último, os estoicos distinguem dois planos de “ser”: 1) o plano de um ser profundo e real (corpos), e 2) o plano dos fatos que se manifestam na superfície, a partir dos encontros dos seres-corpos. Estes encontros não revelam uma propriedade nova dos seres-corpos, mas fazem emergir um atributo que não é uma qualidade de ser, mas sim, dentro de uma terminologia mais largamente deleuziana, um devir (exprimido por um verbo) ou, na terminologia de Bréhier, uma maneira de ser que se encontra de algum modo no limite, na superfície.

É nesse sentido, portanto, que devemos encaminhar a aproximação entre estoicos e epicuristas em torno da “clivagem da relação causal”. Como esta questão se articula com a proposta de uma conquista da superfície extraída de Bréhier e recolocada por Deleuze em termos de corpos e acontecimentos, estados de coisas e atributos? Como esta conquista estoica encontra eco no epicurismo? Não se produziria aí, neste encontro entre estoicos e epicuristas via dissociação da causalidade, uma segunda importante “identidade”, mais discreta (no duplo sentido de sutil e à parte) do que aquela entre Spinoza e Nietzsche?

Enfim, num esforço para tentar conectar as duas “identidades”, poderíamos ainda perguntar: não seria esta segunda identidade (menor, “pequena”) fundamental para reforçar uma teoria da univocidade afirmativa da diferença, ou seja, para recolocar a imanência em novas bases? E que novas bases seriam estas?

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