Arquivo para download: A linha reta e o infinito na refundação epicureana do atomismo, por João Quartim de Moraes

A primeira versão do atomismo deixou indeterminada a causa e a trajetória do movimento dos corpúsculos elementares no vazio infinito. Epicuro, porém, sustenta que eles se movem em linha reta, propelidos pelo próprio peso. Seus críticos ponderaram, entretanto, que se os átomos caíssem paralelamente com igual rapidez (já que, não tendo nenhuma propriedade, salvo tornar possível o movimento, o vazio não lhes opõe nenhuma resistência), eles descreveriam rotas paralelas no vazio infinito, não se encontrando nunca e, portanto não formariam mundos. Para evitar esta conseqüência absurda (já que evidentemente, há mundos, o nosso em todo caso), os epígonos, nomeadamente Lucrécio, atribuíam a Epicuro a doutrina (sintomaticamente designada pelo termo latino clinamen) de que ocorrem desvios na trajetória retilínea dos átomos, que os fazem colidir uns contra os outros e, através destes entrechoques, gerar um mundo. Argumentamos que esta pretensa solução repousa numa interpretação do sentido da queda dos átomos que Epicuro recusou explicitamente, ao declarar que não se deve predicar o alto e o baixo no infinito. Queda vertical não denota uma direção rumo ao ponto mais baixo: o vazio infinito não tem “fundo”. Na conclusão, comparamos o primado do círculo na cosmologia aristotélica ao da reta na cosmologia epicureana.

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