Arquivo para download: Os signos e seus excessos: a clínica em Deleuze, por Joel Birman
O eixo argumentativo de Anti-Édipo se constitui a partir da oposição entre a categoria de máquina desejante e a figura de Édipo, seja este considerado como complexo (Freud) ou como estrutura (Lacan).
[...] Entre os conceitos de máquina desejante e de Édipo, Deleuze e Guattari colocam a categoria de corpo sem órgãos (Artaud) como uma maneira precisa de desalojar o Édipo de sua posição estratégica de centralidade para o sujeito, e um modo de enunciar uma outra interpretação possível do conceito de recalque originário formulado por Freud. O conceito de Édipo enquanto estrutura é relegado a uma posição secundária na construção do sujeito, ao mesmo tempo que a concepção do corpo, como conjunto de máquinas desejantes acopladas de maneira anárquica, vem ocupar a posição fundamental.
Foi através do desenvolvimento do conceito de máquina desejante que Deleuze e Guattari procuraram realizar a desconstrução do modelo edipiano na psicanálise, e formular uma outra leitura possível do conceito de inconsciente.
[...] Desse ponto de vista, poderíamos afirmar que os discursos de Freud e Lacan são ambos criticados por suas dimensões individual e familiarista, pois não consideram em absoluto o campo social.
[...] Mas é sobretudo o modelo estruturalista de Lacan e sua concepção do inconsciente estruturado como uma linguagem que são visados por essa análise. Isso não quer dizer, é claro, que Freud também não seja atingido pela leitura de Deleuze - o complexo de Édipo é um conceito freudiano, e muitas páginas do Anti-Édipo estão centradas numa crítica sistemática a Freud -, mas a crítica se dirige claramente ao pensamento de Lacan. Foi contra uma certa apropriação lacaniana de Freud, então hegemônica na França, que o Anti-Édipo foi escrito. Com isso se elaborou uma nova concepção do inconsciente, em que as máquinas desejantes e o corpo sem órgãos vêm ocupar as posições fundamentais, de modo que as noções de intensidade e de excesso passam a definir o ser do inconsciente.
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