Na Web: Nietzsche: uma nova luz sobre a problemática da xenofobia e da intolerância, por Mónica Cragnolini

Desde o ponto de vista da crítica da subjetividade moderna, Nietzsche é um crítico da “autonomia” do sujeito (quer dizer, a idéia do sujeito agente que pode programar e calcular a realidade), o que ele pensa por meio dos termos do acaso. O amor fati (amor ao destino) é um modo de declaração do amor à vida e ao acaso e é a tônica vital do “além-do-homem” (Übermensch). Este amor que permite o retorno, que diz “sim” à vida em todos os seus aspectos, inclusive aos mais terríveis, faz a diferença. O pensamento do eterno retorno, no que Nietzsche ressalta a expressão “do mesmo”, é pensamento do suposto "mesmo" que faz a diferença, quebra e rompe a presença. Para se levar em conta a diferença, é necessário romper com a metafísica da presença que domina o pensamento ocidental. Se bem que os animais de Zaratustra anunciam a simples circularidade "do mesmo" no que retorna. É essa circularidade “sem diferença” que dá lugar à prédica da caixa de Pandora (Schopenhauer) e que assinala que “Tudo é vazio, tudo é idêntico, tudo foi”. Desse modo, a decisão de afirmar o retorno é a decisão de quebrar com o "mesmo" (fazer um corte, uma ruptura).

O amor à vida supõe aceitar essa disrupção, essa quebra do mesmo da presença. O “voltar outra vez” que afirma Zaratustra patenteia o caráter paradoxal do eterno retorno: afirma o retorno “do mesmo” justamente para indicar a ruptura da “mesmidade”. A decisão quebra a cadeia da repetição. No entanto, esta “decisão” não é o operar de um sujeito agente que delibera, projeta, ordena e então atua, destino que é o modo de atuar desse Selbst, que Nietzsche caracteriza como um devenir de forças que estão relacionadas em relação ao acaso que acontece. Por isso não existe “autonomia” da decisão no sentido moderno, de modo que a liberdade nietzscheana é a da aceitação do acaso: essa aceitação produz a diferença.

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