Na Web: Uma popfilosofia para o século 21, por Cássio Starling Carlos

Deleuze desconfia da ideia de verdade. Enquanto continuarmos a pensar que a verdade se funda a partir da coincidência com um ideal perfeito e imutável, como Platão, toda mutação, todo devir e todas as contingências da realidade serão encaradas como uma mentira e viveremos eternamente no mundo da abstração. 'Devemos voltar a crer no mundo' é uma frase tardia de Deleuze, mas que se aplica com exatidão à crítica dessa imagem do pensamento. Na perspectiva política, escapar dos limites estreitos da identidade fixa corresponde a escapulir das formas de controle e de exploração determinadas de cima pelo capital. Construir uma filosofia da diferença ou elaborar uma esquizoanálise coincidem no projeto de assegurar para a vida linhas de fuga que sirvam para escapar dos determinismos superiores e transcendentes, como Deus e o Estado. […] Em uma de suas mais irreverentes expressões, Deleuze definiu o que fazia como 'popfilosofia' (a expressão aparece em 'Dialogues', 'Mil Platôs' e 'Conversações'). Mas não associava esta ideia a qualquer tipo de facilidade. Qualquer um que tenha lido um texto dele sabe que a tarefa é árdua. Entenda-se pop aqui como uma criação que se alimenta sem preconceitos de fontes heterogêneas. Seu projeto filosófico se define como a constituição de uma teoria das multiplicidades, capaz de compreender cada acontecimento a partir de sua singularidade, de sua contingência e de seu devir. Em sua execução, esta teoria das multiplicidades partiu em busca de discursos que funcionam como novos paradigmas. Na arte e na ciência, Deleuze vai captar articulações de sua teoria com outros pensamentos contemporâneos. […] Esta orientação plural foi a força da qual se alimentou Deleuze para elaborar seu pensamento da diferença. Uma filosofia ainda capaz de espantar o torpor e de restituir a vontade de inventar o mundo.


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