Na Web: A Peste no 'De rerum natura' (6.1138-286) de Lucrécio, por Alexandre Pinheiro Hasegawa
Quase nada sabemos sobre Tito Lucrécio Caro (ca. 94 a.C. – ca. 53 a.C.). Parodiando Horácio, autor de que falamos extensamente aqui no Estado da Arte, Lucrécio está todo em seus versos (cf. Sátiras 1.9.2: totus in illis). O poema, Sobre a natureza das coisas (De rerum natura), dirigido a um certo Mêmio (cf. 1.26), de quem também não temos muita informação, é dividido em seis livros e insere-se em longa tradição de poemas em hexâmetro dactílico em que há matéria filosófica, como fizeram Parmênides, Heráclito, Xenófanes e Empédocles, por exemplo. Hesíodo seria o ‘pai’ dessa espécie poética, que teria longuíssima fortuna, entre gregos e latinos. A obra, classificada como didática, não é uma exposição sistemática da filosofia epicurista, mas o epicurismo é a doutrina ensinada com o objetivo de fazer o homem alcançar a felicidade, e nesse percurso é necessário afastar o medo que afeta todos nós, o medo dos deuses e da morte. Dirá Virgílio, imitando Lucrécio, nas Geórgicas (2.490-2): ‘feliz aquele que pôde conhecer as causas das coisas e subjugou sob seus pés todos os medos e o inexorável destino e o estrépito do ávido Aqueronte’ (felix qui potuit rerum cognoscere causas / atque metus omnis et inexorabile fatum / subiecit pedibus strepitumque Acherontis avari). Assim, a grande personagem do poema é Epicuro, que aparece, primeiro, como homem (1.66: primum Graius homo mortalis tollere contra), depois como pai (3.9: tu pater es, rerum inventor, tu patria nobis), e por fim como deus (5.8: dicendum est, deus ille fuit, deus, inclute Memmi). Tal progressão, no suceder dos livros, fez com que os estudiosos vissem a organização da obra em pares: 1-2, relacionados ao tratamento dos átomos; 3-4, voltados ao desenvolvimento sobre a alma; 5-6, dirigidos ao relato da história e dos fenômenos do mundo.
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