Arquivo para download: Deleuze, cartografias do estilo: assignificante, intensivo, impessoal, por Anne Sauvagnargues

Esse devir impessoal na escritura não implica de forma alguma uma renúncia de si, mas, ao contrário, a chance de fazer passar na linguagem o sopro real do acontecimento. Ele não constitui de modo algum uma mortificação mística, uma abdicação mortífera, mas procede por uma construção violenta e apaixonada que leva a linguagem a seu limite, ao ponto de tensão onde se formam nela as individuações definidas, os modos de subjetivação sociais. Para Kafka, Blanchot, como para Deleuze, o problema não é de modo algum, portanto, o de renunciar ao Eu, mas de mostrar como o seu Eu é produzido por um neutro indefinido, um Ele que não é mais nenhuma pessoa, mas que constrói uma linha de fuga virtual. Este Ele leva toda a linguagem a seu ponto de desequilíbrio, mas também de criatividade, posto que ele não representa um sujeito substancial, mas tenta cartografar uma nova individuação. “O Se e o Ele – morre-se, ele é triste – não tomam em nenhum sentido o lugar do sujeito, mas destituem todo sujeito em proveito de um agenciamento do tipo hecceidade”, explicam Deleuze e Guattari. É isto um estilo: no lugar de reterritorializar os enunciados sobre as pessoas, de centrar a linguagem sobre seu ponto de origem suposto abstrato, um Eu transcendental, dado como sujeito substancial, estica a linguagem, ao contrário, para permitir a ela ser atravessada, levada à sua exterioridade, que não é uma extenuação, mas um ponto extremo de transformação, um limiar de metamorfoses.

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